Outro dia me disseram que eu precisava aprender a diferenciar solidão de solitude. Que um é sofrer sozinho e o outro é aproveitar sua própria companhia. Mas a verdade é que, dependendo da perspectiva (e do nível da minha carência), os dois podem ser a mesma coisa. Afinal, um jantar romântico à luz de velas sozinho pode ser solitude. Mas se a vela for um backup porque cortaram a luz, aí vira solidão mesmo.
Segundo especialistas, solitude é aquela escolha consciente de ficar sozinho para refletir, se encontrar e, quem sabe, descobrir o sentido da vida. Basicamente, é o que monges fazem. O problema é que, para o cidadão comum, o mais próximo disso é tentar um momento de paz no banheiro antes que alguém bata na porta perguntando onde está o carregador de celular. Ou seja, solitude, na prática, é um luxo inatingível.
Já a solidão, dizem os estudiosos, pode trazer problemas de saúde, inclusive cardíacos. Ou seja, não basta você estar sozinho, sem ter com quem reclamar das contas do mês, ainda corre o risco de infartar. Parece até que a vida quer garantir que, se você não socializar, pelo menos vai ter um bom motivo para ir ao hospital e interagir com enfermeiros e médicos.
Agora, sejamos sinceros. Vivemos em uma sociedade que nos promete conexões ilimitadas, mas, ironicamente, nunca estivemos tão isolados. Mandamos mensagens o dia inteiro, mas conversar cara a cara já virou um evento raro. Você já percebeu que, se ligar para alguém sem avisar antes, a pessoa atende perguntando o que aconteceu? Pois é. Estamos mais conectados do que nunca, mas na prática, a nossa melhor companhia tem sido a geladeira. Pelo menos ela não julga nossas escolhas, exceto quando olhamos para aquele pote de sorvete vazio e sentimos o peso da existência.
Dizem que a solução para a solidão está em cultivar relações significativas. Parece fácil, né? Mas o que ninguém conta é que, entre trabalho, trânsito, boletos e a necessidade de dormir pelo menos cinco horas, sobra pouco tempo para isso. E, sejamos honestos, às vezes socializar dá um trabalhão. Para cada amizade incrível, sempre tem aquele amigo que só liga para pedir favor ou aquele parente que faz perguntas constrangedoras no almoço de domingo. Então, será que um pouco de solidão realmente faz tão mal assim?
No fim das contas, talvez a melhor estratégia seja equilibrar as duas coisas. Aproveitar a solitude quando dá e evitar que a solidão vire um buraco negro emocional. E, se tudo mais falhar, pelo menos podemos contar com a geladeira para uma conversa franca e um lanchinho existencial no meio da madrugada.
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